sábado, 5 de março de 2011
Uma libertação
"A falta de preocupação dele com o nosso distanciamento me impressionou.Talvez pense o mesmo de mim e isso me parte o coração.Uma das coisas mais difíceis desse rompimento foi o fato de que pouco importaram as toneladas de vontade de reconciliação que depositei aos seus pés,o quanto de culpa assumí e quantos atos de contrição me dispuz a lhe oferecer em troca do seu convívio e perdão.Ele certamente nunca iria me dar os parabéns pela minha honestidade,não,eu era imperdoável.E esse buraco negro estava aberto dentro de mim.Até mesmo,e principalmente,nos momentos de felicidade e entusiasmo,eu nunca conseguia esquecê-lo por muito tempo.E eu tinha a sensação de que isso nunca iria mudar,de que eu nunca me libertaria."
"Vejo qualquer relação como um tipo de costura,e separar isso é um tipo de amputação,que pode levar muito tempo pra sarar".Isso explica as sensações que venho tendo há 12 anos,a impressão de estar balançando esse membro inexistente,sempre a derrubar coisas das prateleiras...
"Estaria eu permitindo que ele dite pelo resto da vida a maneira como me sinto em relação a mim mesma??""Estaria eu esperando seu perdão para me sentir liberta da culpa e em paz???"Esperar por esse dia não é racional,não é bom uso do meu tempo.E o que posso dizer gente??A culpa me cai muito bem,assim como o bege cai bem na mioria das mulheres..."A culpa é só a meneira que meu ego encontrou para eu pensar que estou fazendo algum progresso moral"...e não posso cair nessa."Um dia isso tem que acabar"-pensei.E acabou.
"Querido Deus,me mostre tudo que preciso entender.Sobre o perdão e a entrega".
O que eu vinha querendo há muito tempo era ter uma conversa com ele,mas isso jamais iria acontecer.Eu queria uma solução na qual pudéssemos emergir nós 5,com uma compreensão unificada do que havia acontecido e com um perdão mútuo.Porém,esses 12 anos separados só havia tornado nossas posições mais solidificadas,transformando-nos em duas pessoas absolutamente incapazes de libertar o outro.No entanto,eu tinha certeza de que era disso que nós dois precisávamos.E tinha outra certeza:De que as regras da transcendência insistem que você não chegará nem um centímetro mais perto da divindade enquanto se prender a qualquer sedutora lasquinha de culpa."O ressentimento faz com a alma o que o fumo faz aos pulmões".
Não.Definitivamente eu não nascí para orar"a mágoa nossa de cada dia nos dai hoje"...
Assim,pedí a Deus,dada a realidade que eu jamais falaria com ele: -Será que poderia haver algum nível em que conseguíssemos nos comunicar???Algum nível no qual pudéssemos nos perdoar???
Meditei sozinha,esperando que alguém me dissesse o que fazer.Pensei nas pessoas que conseguem deixar"pessoas costuradas"desaparecerem de suas vidas antes de trocarem palavras preciosas de clemência ou de absolvição.Como os sobreviventes de uma relação interrompida conseguem suportar a dor de um assunto mal resolvido???Encontrei a resposta,e não foi apenas possível,foi essencial.
Na minha meditação convidei meu irmão para sentar ao meu lado.Pedí para ele ter a bondade de me encontrar para uma despedida.Sua presença se tornou tangível,praticamente sentí o seu cheiro."Oi"-eu falei.Quase comecei a chorar,mas percebí que lágrimas fazem parte da vida corpórea,e o lugar onde aquelas duas almas se encontravam,não tinha nada a ver com corpo.
As duas pessoas que precisavam se encontrar sequer eram mais pessoas.Elas sequer iriam conversar.Eram, apenas duas almas de um azul frio,que já compreendiam tudo.Sem estarem presas aos seus corpos,nem à complexa história,se uniram em infinita sabedoria.As duas frias almas azuis rodearam uma a outra,fundiram-se,tornaram-se a dividir,e observar a perfeição e semelhança uma da outra.Elas sabiam tudo.Sabiam tudo havia muito tempo,e sempre saberão tudo.Não precisavam perdoar uma a outra,elas haviam nascido perdoando uma a outra.."Fique fora disso Patrícia,sua participação neste relacionamento terminou.Deixe a gente resolver as coisas de agora em diante,e vá tocar sua vida".Foi a lição de balé das nossas almas.Eu estava livre.E deixe-me ser clara:Não é que nunca mais fosse pensar no meu irmão,nem nunca mais ia ter emoções ligadas à ele ou à lembrança dele.Só que aquele balé de almas havia me proporcionado um lugar onde eu pudesse guardar esses pensamentos,sempre que eles surgissem no futuro-e eles sempre surgirão.Porém,da próxima vez,posso mandá-los de volta ao cuidado daquelas duas almas azuis e frias,que já entendem,e sempre haviam entendido tudo.
E para comemorar esta idéia de libertação,rolei na areia,pulei,dancei,sentí a água,o pelo macio da minha gata Vaninha!!!esse tipo de coisa não é o tipo de coisa que uma alma azul e fria possa fazer-afinal são desprovidas de corpo-mas um ser-humano pode!!!Nós temos mãos,podemos nos apoiar nelas,sentir com elas,e através delas.É nosso privilégio. É essa a alegria de um corpo mortal.E é por isso que Deus precisa de nós,para sentir as coisas através das nossas mãos.
Viva minha libertação!!!!!!!!!!!!
(Baseado no livro comer rezar e amar,e na minha história.)
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